terça-feira, 11 de outubro de 2011

Uso dos diálogos em uma narrativa


Certo, já li várias postagens a respeito desse assunto. Acho que todos têm uma compreensão de o quanto é importante termos bons diálogos em uma narrativa (é claro que nem toda narrativa precisa deles, mas, naquelas em que eles são necessários, sua boa construção e utilização é simplesmente fundamental). A relevância é tão grande que existem diversas maneiras de se estruturar até mesmo graficamente os diálogos no texto. Seja com travessões, seguidos algumas vezes por descrições, seja com aspas ou, em alguns casos, com nenhuma marcação, como faz José Saramago, por exemplo.

Enfim, o diálogo é fundamental para definir quais os objetivos de uma história. Sei que é uma afirmação estranha, mas é a verdade. Basta analisarmos as diferentes obras e os diferentes modos de se utilizar um diálogo. Por exemplo, em livros de entretenimentos, thrillers e etc... a conversa entre os personagens aparece com muita frequência - e precisa ser trabalhada com precisão para que se construa um cenário, para que o leitor possa imaginar cada detalhe do que acontece no livro, quase como num filme. Nesse tipo de obras, de uma maneira geral, os diálogos utilizam travessões e, logo após, em muitos casos, descrições da cena, como o que o personagem faz enquanto fala, o que acontece no cenário durante a conversa e etc...



Este diálogo, portanto, tem a função justamente de ilustrar ainda mais um livro com um caráter mais imagético e de ação do que necessariamente reflexivo. Se eles não forem bem construídos, é muito possível que grande parte do apelo da obra se perca.

Já em obras mais reflexivas, o uso do diálogo é, normalmente, bem diferente. Ele possui menos marcações, já que aquilo que acontece, a ação por assim dizer, não é tão importante. Talvez o que é dito seja muito mais importante do que aquilo que acontece - e geralmente os diálogos aparecem de forma mais esparsa, servindo apenas para trazer novas informações e jogar o leitor, junto com o narrador e os personagens, em uma série de reflexões.

No entanto, devo lembrar, nada é assim tão preto no branco. Há livros que, dentro de sua própria trama, variarão entre um tipo de diálogo e outro, entre um momento de reflexão e outro de mais ação. A estrutura de uma longa narrativa, como são os livros, é muito complexa, por isso pode incluir diversos tipos de diálogos, vozes, narrações e etc...

Como uma última observação, falaria de livros que têm "excessivo" uso de diálogos - na verdade, predominância massiva de diálogos, o que não significa automaticamente excesso. De um modo geral, há gente que critica, alegando que isso poderia indicar uma falta de capacidade do autor. Devo admitir que, muitas vezes, isso pode sim ser verdade; mas não sempre. Em muitas casos, um diálogo bem escrito pode substituir blocos e mais blocos de narrativa - às vezes narrativas densas demais, que fariam o leitor se perder ou se sentir fatigado. E quando falo densa, não me refiro à complexidade, mas sim à inutilidade do trecho.

Exemplo, fiz uma postagem faz algum tempo em que apresentava uma técnica a ser utilizada na literatura fantástica para se apresentar o mundo que se quer descrever. Uma segunda técnica para alcançar o mesmo objetivo poderia ser justamente o uso dos diálogos. Em muitas das minhas histórias, quando quero explicar algo que se alongaria muito por meio de descrição (ou ficaria fora de contexto no livro) incluo um diálogo em que aquele determinado algo é dissecado e explicado. Assim, deixa-se de escrever longas descrições, aquelas desnecessárias, que podem tirar o foco da linha principal do livro. Ou seja, pensem muito bem antes de descartar um autor simplesmente pelo fato de o livro ter muitos diálogos (e o mesmo vale para livros com muita narração, ok?)

A grande prova do que falo vem lá da Grécia. Um dos maiores filósofos de todos os tempos, Platão, em vez de escrever páginas e mais páginas sobre sua complexa filosofia de modo acadêmico ou com trechos de narração gigantescos, optava por fazer isso através de diálogos. Isto é, por intermédio deles é que Platão apresentava idéias filosóficas altamente complexas ao mundo. Isso significa dizer que um livro, para ser reflexivo, não precisa ter necessariamente (como alguns pensam) infindáveis páginas de pura narrativa e/ou rebuscamento. É possível obter o mesmo efeito também através dos diálogos - que podem ser um bom jeito de atingir um público maior, já que eles, de um modo geral, são mais "leves" e "descontraídos".

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