sábado, 5 de outubro de 2013

Resenha: "As Esganadas" - Jô Soares




Esse foi o primeiro livro que li do aclamado autor Jô Soares e fiquei muito satisfeito com o que vi. Ele mistura habilidosamente humor, dados históricos e um clássico caso de psicopatia na trama. O cenário é o Rio de Janeiro da década de 30, durante o Estado Novo, onde um pequeno grupo investigativo está em busca de um assassino em série. A trama encanta com uma autenticidade marcante e cativante. 

Uma onda de assassinatos brutais a vitimas que possuem uma única característica em comum: são gordas. Durante a estória Jô explora bastante a Era Vargas, inclusive narrando com maestria uma visita de Nazistas ao Brasil para assistir a uma ópera. Um investigador português  é o protagonista de um romance policial fora de série, comparável às obras de Agatha Christie.

Misturando dados reais aos fictícios, o autor cria um universo autêntico para sua ficção, contando como um investigador português chamado Tobias Esteves ajuda a desvendar o misterioso caso das esganadas, que deixa a polícia de mão atadas.


Recheado de humor nos diálogos algumas vezes “pesados”, Jô apimenta ainda mais o romance com trocadilhos interculturais e por vezes trechos em idiomas diferentes, como o alemão, o francês e o espanhol.

De início o autor já revela logo quem é o assassino e isso leva os leitores a loucura para descobrirem como os investigadores farão para pegar o mesmo. Ao longo da trama a trupe do ranzinza Delegado Noronha, o impagável Esteves, o boa praça Valdir Calixto e a bela repórter Diana, fazem rir em suas conversas confusas devido à diferença da língua do português e do brasileiro.

O assassino, de nome Caronte, tinha uma mãe gorda. Ela tinha medo de ver seu filho também se tornar obseo e por causa disso ela o mantinha em uma dieta terrível. Por conta dessa paranoia de sua mãe, ele nutria uma raiva enorme dela e um dia empurrou a pobre escada a baixo, matando-a. Caronte herdou do pai a funerária Estinge, a mais famosa e luxuosa do Rio de Janeiro. Antes de morrer seu pai o mandou para a Alemanha afim de que se especializasse em técnicas de embalsamento. Depois de ter matado sua mãe, Caronte passou a nutrir um ódio enorme por todas as gordas, por ver nelas a figura detestável de sua genitora. Assim ele escolhe suas vítimas uma a uma, matando-as de forma monstruosa e exibindo-as em seguida para a polícia, deixando a cidade toda em polvorosa.

O fato de já sabermos logo no início quem é o assassino e porque ele comete tais crimes, não faz com que o livro se torne ruim, pois o interessante é a espera de novos ataques, de como eles vão ser, ao mesmo tempo em que vamos acompanhando os passos dos investigadores que correm atrás de pistas.

Sem grandes suspenses ou revelações a leitura é rápida e bem agradável.
Em resumo, adorei a estória. Jô tem inteligência e humor na medida certa para construir seus personagens e montar cenários que realmente nos levam a imaginar a época em que a trama se passa.

Recomendo... Ótima leitura de um grande autor nacional.


Luis Boto

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