quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Resenha: Cangaceiros - José Lins do Rêgo

Olá blogueiros de plantão,
 
Estou retomando a partir de desta data no blog Literatura Sobral, uma categoria postagens que eu havia deixado de lado, mas que senti a necessidade de pôr em prática novamente, que são as postagens de resenhas de leituras de livros. Inicialmente vou postar as resenhas dos livros que li em 2012, que foram 7 no todo. Espero que gostem das resenhas, e aqueles que lerem, por favor, deixem algum comentário.
 
 

FichaTítulo: Cangaceiros
Autor: José Lins do Rego
Editora: José Olympio
Edição: 14.ª - 2010
ISBN: 978-85-03-01059-7
Páginas: 413
 
Para dar inicio, farei hoje a resenha de um livro encantador, e como amante da literatura brasileira e nordestino que sou, nunca deixo de ler, de vez em quando, uma obra regionalista de nossos autores clássicos, como José Lins do Rêgo. É dele esse belíssimo romance que enxerga o cangaço pelo lado de fora, ou em volta dele.
 
Em vez de descrever o dia-a-dia dos cangaceiros, seus combates e suas fugas, o autor prefere contar a vida das pessoas que são parentes ou amigas dos cangaceiros, que pensam neles o tempo todo, que os temem, que os protegem, que torcem por eles ou contra eles. A toda hora chegam-lhes relatos das façanhas e das crueldades praticadas tanto pelos cangaceiros quanto pelas volantes de soldados que os perseguem.


A trama conta a história de Bento, irmão do cangaceiro Aparício. Através dele, na fazenda onde se refugia, ficamos vendo a quantidade enorme de boatos, lendas, informações falsas e histórias mal contadas que cercam a atividade desses indivíduos, num Sertão da década de 20, carente de comunicações e de estradas.

O estilo de José Lins é bem atípico, com extensos parágrafos que se expandem por páginas e mais páginas, por vezes até cansativos, nos quais ele acompanha as idas e vindas do pensamento do personagem, seus avanços e recuos, suas decisões, hesitações, suas intermináveis discussões íntimas nos momentos de ameaça ou de crise. Como o autor usa habilmente um vocabulário claro e direto, o leitor acompanha sem muito esforço essas reviravoltas mentais sem perceber o labirinto de idéias em que está se metendo.

O livro, que aliás é uma continuação direta de “Pedra Bonita”, formando com ele uma unidade sem cesura, mostra um enorme entendimento do autor da mecânica social do ambiente que descreve, e uma grande familiaridade com usos e costumes, resultado de uma memória vívida. Isto lhe permite criar personagens de peso como os três irmãos Vieira: o cangaceiro Aparício, o pacífico Bento, e Domício, o poeta cantador que acaba enveredando pelo cangaço.

No entanto dois personagens do livro merecem grande destaque na obra, chegando por vezes até a ofuscar os irmãos Vieira. O primeiro é o Capitão Custódio, desmoralizado pela vergonha de ter visto seu filho ser morto pelo Coronel Cazuza Leutério e nada ter feito para vingá-lo. O código de honra do Sertão da época não admitia que um pai não vingasse o assassinato do filho, e o Capitão remói sua culpa e sua humilhação em todas as cenas em que aparece. O outro personagem é o Mestre Jerônimo, que foi embora do Brejo por ter cometido um crime de morte, não gosta do Sertão, e vai pouco a pouco entrando num delírio paranóico equivalente ao do Capitão Custódio.

São dois personagens trágicos, que mostram o remoer de angústias e ansiedades que existe às vezes por trás da fisionomia impenetrável do sertanejo. Numa interiorização progressiva de culpas, ressentimentos, humilhações e medos, os dois vão sendo consumidos de dentro para fora diante dos nossos olhos. Quando Bento procura fugir dali, nos últimos capítulos, está fugindo ao terrível futuro que o ameaça, o de se tornar um cangaceiro como os irmãos ou um doido como os seus dois protetores mais velhos.

“Cangaceiros” é sem dúvida uma obra prima de José Lins do Rêgo, a qual recomendo aqueles leitores apaixonados pela literatura regionalista dos grandes autores nacionais do passado.


Obs: esse texto é uma adaptação do original de Braulio Tavares (Blog Lampião Acesso)




 
 

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