sábado, 9 de agosto de 2014

TERRA SEM LEI - Capítulo 04




No quarto capítulo eu inicio a segunda fase da estória, dando um salto de 18 anos no tempo. Aparesento ao leitor a fazenda e o casarão do vilão Carlos Lucena, bem como suas minas de granito erguidas nas terras que antes eram de João Silva. Na verdade esse capítulo é mais uma reintrodução da estória, apresentando novamente a família Lucena e toda a sua riqueza, destacando uma mensagem importantíssima trazida para Carlos e sua esposa.

Segue o capítulo na íntegra.

Confiram, leiam e postem seus comentários, elogios ou críticas.




4

O TEMPO PASSA



É mais uma bela manhã naquela árida região do sertão nordestino. Como está num período invernoso, existem vários pontos com alguma vegetação em meio ao denso e seco agreste, algumas poças dágua e até mesmo pequenas lagoas, fruto de alguma chuva forte que tenha dado recentemente.

Passaram-se dezoito anos desde o massacre da família de João Silva. O que terá acontecido nesse período? Será que Carlos Lucena conseguiu explorar o granito das terras de João? Ou será que ele, como mandante do crime, foi preso? Será que pelo menos a polícia descobriu quem foi o responsável por aquele crime hediondo? E quanto a Joãozinho, o que terá acontecido com ele?


Pra começar, vale destacar uma bela e enorme casa construída próximo às antigas terras de João Silva. A casa é definitivamente muito bonita, centro de uma grande fazenda, enormes estábulos, currais, muitos cavalos e bois, além de uma linda área de lazer coberta por arbustos e árvores, que apesar de secos, ainda produzem uma boa sombra.

O dia está movimentado na casa, pois os empregados estão trabalhando a toda força, uns limpando os cavalos e os coches, colhendo algum leite de vacas mirradas, outros cortando troncos de carnaúbas, enfim, uma manhã de intensa atividade naquela fazenda.

Um coche passa pela porteira da fazenda, a qual tem escrito em sua placa de entrada o título “Fazenda São Carlos”, e avança em direção à casa grande. Ao chegar em frente à mesma, desce do veículo um jovem rapaz de uniforme militar característico da época, trazendo consigo um envelope lacrado. O jovem observa a casa e o movimento ao redor dela, então avança rumo à porta de entrada. Chegando, ele bate delicadamente, e não demora muito a porta se abre, onde o jovem é atendido por Dinorá, a velha empregada de Carlos Lucena.

– O Sr. Carlos está em casa? – pergunta o jovem meio que apressado.

– Não senhor, ele está trabalhando. O que deseja? – indaga Dinorá.

– Trago uma correspondência – afirma o jovem rapaz mostrando o envelope.

– Se desejar, posso levar a encomenda à Dona Maria, esposa dele.

– Pois não. Leve e peça pra ela assinar a guia de recebimento, por favor – explica o rapaz dando uma solução para a ausência de Carlos.

Calmamente Dinorá se dirige para o interior da casa em direção à Dona Maria, que está na varanda interna sentada num belo banco de cimento olhando um álbum de fotografias.

– Com licença, Dona Maria.

– Pois não, Dinorá. O que quer?

– Correspondência pro Sr. Carlos – responde a velha senhora entregando o envelope à Maria.

– É da Companhia Férrea de Ibipiranga – afirma Maria ao ler a etiqueta do remetente no envelope.

– A Senhora precisa assinar a guia pra devolver pro mensageiro – avisa Dinorá entregando a guia.

– Está bem.

A mulher assina a guia e a devolve para Dinorá, que imediatamente parte de volta pra porta de entrada da casa onde o jovem mensageiro espera inquieto.

Maria abre o envelope, tira o papel que há dentro dele, abre-o e então começa a ler. Ela faz uma rápida leitura até um ponto em que acaba se espantando e ao mesmo tempo solta um singelo sorriso, e fala pra si mesma:

– Que maravilha! Graças a Deus!

Então ela coloca o papel de volta no envelope e chama com fervor um dos empregados:

– Tobias! Ô Tobias! Venha aqui rápido!

Antes que ela chamasse novamente, um jovem negrinho surge na varanda, ainda ofegante da corrida que acabara de dar para atender o chamado de sua patroa.

– Pois não, Dona Maria?

– Tobias, pegue esse envelope e vá deixar agora nas mãos de Carlos, você sabe onde ele está – ordena a mulher entregando o envelope ao rapaz.

– Sim Senhora – responde o jovem pegando o envelope e já se dirigindo para fora da casa.

Maria observa alegremente a saída de Tobias, mas logo nota que Dinorá está atenta a sua euforia, bem como curiosa por saber o que acontecera. Maria se volta para a velha negra e soltando um largo sorriso revela:

– Ô Dinorá, era da Companhia Férrea lá da cidade, e trazia uma notícia maravilhosa.

– Mas que notícia, Senhora? – questiona Dinorá ainda mais curiosa.

– Estão avisando que o vapor de Vivian estará chegando esta tarde!

– Vivian vai chegar, minha Senhora? – questiona a velha senhora mais uma vez, como se não estivesse acreditando.

– Vai sim Dinorá, minha filha vai chegar hoje – finaliza a mulher abraçando a negra, quase que dançando de tanta felicidade. Quanta alegria daquelas duas.

Tobias pega um dos cavalos que estão soltos no pasto da fazenda, monta e sai em disparada, deixando um rastro de poeira para trás; logo alcança a porteira da fazenda e num instante já está percorrendo o sertão, em meio ao agreste ainda úmido devido a algum sereno recente. Em seu rápido e vultoso galope, Tobias vence rapidamente os áridos serrotes, amedrontando os bichos na beira da estrada de terra, tamanha é a sua velocidade. Logo, em questão de minutos, após superar um grande serrote cheio de cactos e enormes juazeiros, ele avista um local cheio de homens trabalhando, onde existem várias crateras feitas por escavações, algumas barracas de madeira, um grande galpão de alvenaria, muitas ferramentas, carros de mão, pequenas carretas com rodas de ferro carregadas com blocos de pedra em cima de trilhos que passam justamente por dentro das crateras onde aqueles homens trabalham, além de uma estrada de ferro que nasce lá no ocidente passando por aquele local e indo em direção ao sul. Aquele lugar, sem dúvida alguma, é o local onde Carlos Lucena explora o granito das terras que ele tomou de João Silva, o que revela que o responsável por aquele massacre há dezoito anos, conseguiu o que queria.

Tobias desce o serrote em direção a um grande galpão, o único feito de tijolo, que fica no topo de um alto morro e um pouco afastado das demais edificações menores, tendo assim uma vista panorâmica de toda a área das minas.

Bem em frente àquela barraca, olhando para as minas, está Carlos Lucena, que sozinho observa o movimento de seus funcionários escavando, quebrando e retirando granito com técnicas rudimentares e extremamente artesanais. Um outro homem, tão bem vestido quanto Carlos, sai de dentro do galpão com uma pasta na mão e segue em direção ao empresário, e aproximando-se dele, avisa:

– O carregamento pra Teresina já está pronto, Sr. Carlos.

– E o de São Luís? – questiona Carlos se voltando para o homem.

– Falta muito pouco, só mais alguns blocos e também estará no ponto para seguir viagem – responde o homem de imediato.

– Muito bem, Batista. O vapor estará aqui amanhã cedo, e quero que envie essas duas cargas com urgência – afirma Carlos com ares de satisfação.

Logo Carlos nota Tobias se aproximando em seu cavalo, ele chega ofegante, o cavalo já bem cansado pela corrida no caminho. O jovem negrinho entrega o envelope a Carlos.

– Dona Maria mandou entregar ao Senhor.

Carlos pega o envelope, examina-o e tira o papel de dentro. Ao ler o documento, assim como sua esposa fez, ele sorri ao chegar ao trecho em que fica sabendo da vinda de sua filha. Ele se volta novamente para Tobias e agradece:

– Obrigado Tobias! Você já pode voltar pra fazenda.

Tobias volta para o seu cavalo, monta e parte novamente, dessa vez ele avança sertão adentro de volta para a fazenda. Carlos entra no galpão, lá dentro está o seu escritório e está também o Sr. Batista e uma secretária com a mesa cheia de papéis.

– Quero avisar a vocês que não venho na parte da tarde, pois vou esperar minha filha Vivian, que está chegando hoje de São Paulo – avisa na entrada o Sr. Carlos cheio de graça.

– Mas que ótima notícia Sr. Carlos – responde a secretária.

– Marisa, quero que você mantenha tudo em ordem aqui dentro – ordena o patrão.

– Sim, senhor.

– Quanto a você Batista, tome conta de tudo lá fora.

– Claro senhor, pode deixar.

– O Senhor vai buscá-la na cidade? – questiona Marisa, curiosa.

– Não será necessário. Em sua última correspondência, ela deixou claro que não queria que ninguém fosse apanhá-la, queria vir pra fazenda sozinha – responde Carlos com jeito de que não gostara muito da ideia.

Mas é sem dúvida um dia de muita alegria para a família Lucena, pois estão prestes a rever a filha querida depois de anos de estudo em São Paulo. Certamente Carlos, neste momento, não deve estar se lembrando do crime que cometera no passado, também não deve se lembrar que justamente esse crime é que lhe proporciona hoje tanta riqueza e felicidade. Resta saber até quando vai durar a alegria, a riqueza e a impunidade de Carlos Lucena.



 *****

No próximo post: Capítulo 05(comentado)



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Luis Boto

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