A segunda edição da Semana do Livro Nacional acontece em 25 cidades brasileiras entre os dias 19 e 27 de julho, com participação de quase 500 integrantes do mercado literário, dentre escritores, blogueiros, editoras e livrarias. O objetivo é promover debates sobre a literatura produzida atualmente no País.
Em Fortaleza, a discussão se agrega ao encontro de julho do projeto Sábado Literário, bate-papo entre público e autores locais realizado no terceiro sábado de cada mês no Shopping Benfica. Desta vez, o tema é literatura independente e os desafios do autor nacional.
"Acho que o problema chega a ser cultural. Nós temos a tendência de valorizar o que vem de fora e acabamos perdendo muita coisa boa. Muitos escritores assinam com pseudônimos estrangeiros com medo de não serem lidos. Mas existem muitas editoras hoje que valorizam o nacional e o mercado de publicação está aberto. Hoje, acho que as chances são iguais, a dificuldade surge na hora de ir para as livrarias", defende Cristina Aguiar, autora cearense dos livros "A Profecia de Hedhen" e "As Árvores Sagradas de Nod" e palestrante do evento.
Embora não seja de todo independente, visto que é publicada de forma tradicional por uma editora, Cristina segue a cartilha do escritor nacional. Como se finalizar um ou mais livros não desse trabalho o suficiente, a jornada do herói continua na busca por registro de direitos autorais, publicação, circulação, divulgação e, em algum momento desse longo caminho, um nem tão certo assim retorno financeiro, visto as porcentagens de venda que se esvaem para livrarias, editoras e outros gastos.
Pablo Vargas, escritor da saga "Os Oito Guardiões" e outro dos debatedores convidados pelo Sábado Literário, utilizou como estratégia para fidelização e conquista de público a criação de um site para obra em 2012. Embora tenha expectativa de lançar oito volumes, somente um foi concluído até agora e nenhum fechou contrato com editora ainda, mas não por falta de determinação do autor.
"Estou chegando a duas conclusões nesses seis meses de envios e tentativas: dificilmente você vai ser publicado sem ter um investimento inicial e que o autor sempre valoriza demais sua obra, por isso se decepciona pela quase sempre não boa receptividade das editoras. Mas na vida a gente não desiste nunca, não é verdade?", conta.
Alternativas
Uma opção aos escritores que não querem mais correr atrás de uma oportunidade nas grandes editoras é a autopublicação. Através da ferramenta Kindle Direct Publishing (KDP), o portal da gigante de vendas Amazon permite a publicação imediata das obras no formato digital. O valor de venda, de onde se extrai a porcentagem que fica com o site, é determinado pelo próprio autor.
Essa foi a alternativa encontrada por Heráclito Pinheiro para o lançamento de seu novo livro, "Obakemono". "Publicar na Amazon também não é simples, mas certamente é mais simples do que publicar de maneira tradicional e, por certo, envolve menos custos. Eu acredito que, para uma produção independente, a Amazon permite um maior alcance, visto que uma das maiores dificuldades de um autor independente é justamente a distribuição. Outro fator importante nessa decisão foi a percepção de que essa é uma mídia que tem demonstrado o seu valor e, mesmo eu não acreditando no fim do livro de papel, creio que o e-book veio para ficar e terá cada vez mais espaço", defende o escritor.
Para os sócios Nathan Matos, Madjer Pontes e Talles Azigon, a autopublicação inicial fomentou a ideia de criar uma editora independente. O selo "Substânsia" possui atualmente três livros no catálogo, os dois primeiros financiados totalmente pela empresa e o terceiro em coparticipação com o autor. Um conselho editorial formado por membros da comunidade acadêmica e do mercado livreiro está sendo formado para delinear uma linha de publicação para a editora iniciante, no momento focada em literatura brasileira contemporânea, com atenção mais específica para produção local cearense e nordestina, independente do gênero. "Nossos próximos lançamentos para os meses de setembro e outubro são o livro de contos da escritora cearense Ayla Andrade e a tradução de Electra, de Eurípedes, pelo professor Doutor Orlando Luiz Araújo", adianta Talles Azigon.
Talles, cujo livro de poesias "Três Golpes D'Água" foi lançado pela própria "Substânsia", acredita que esse é o grande momento das editoras independentes. "Existem muitos bons autores que precisam e desejam ser publicados, como existe um público curioso que deseja ler esses autores, é verdade que não é um mercado imenso, porém ele tem crescido", avalia.
Contudo, há outros elementos complicadores. "O fator dinheiro é um dos mais delicados, as poucas perspectivas de lucro, o desconhecimento do mercado, a distribuição e a falta de verbas para investir pesado em marketing são alguns dos desafios de uma editora independente. Acredito que por sermos um setor novo e de poucos recursos, a organização política dessas editoras para conquistar seus espaços também é um ponto desafiante", acrescenta.
FIQUE POR DENTRO
Uma semana dedicada ao livro e à leitura
A Semana do Livro Nacional de 2014 acontece na semana alusiva à comemoração do Dia Nacional do Escritor (25 de julho). Este ano, a programação se estende a 25 cidades brasileiras, com participação de cerca de 500 integrantes do mercado literário, dentre escritores, blogueiros, editoras, livreiros e livrarias. Com gerenciamento próprio para cada localidade, a meta principal é única: discutir os rumos e essências da literatura brasileira contemporânea. No dia 18, o twitter oficial do evento (@semanadolivrobr) propõe um twittaço a partir das 19h. A meta é alcançar os trending topics da rede social com as hashtags "#SLN" e "#EuLeioBrasil".
Mais informações
Sábado Literário. Hoje, às 17h, no Shopping Benfica (Av. Carapinima, 2200).
Entrada gratuita.
Contato: (85) 3243.1000
Fonte: Diário do Nordeste
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